terça-feira, 30 de junho de 2015

Por que escrevo? (parte 1 - Quem está aí)


Não sei sobre o que escrever. Queria dizer tantas coisas mas a cabeça não permite. Ela apenas diz: “escreve, escreve, escreve”... é como se fosse uma paródia do “run, Forest”, porém, menos glamourosa e mais aflita. Paralelamente converso com outras pessoas no meio da noite/madrugada com o objetivo de sentir que “há alguém do outro lado”. Não é questão de solidão, não é questão de medo, não sei se é porque quero ser ouvido, mas, me deixa um pouco mais feliz saber isso...

Queria realmente ter algo tocante para dizer, algo “do coração”, que pudesse mexer (ou coisa do tipo), algo que no futuro alguém viesse a ler e falasse “nossa, que espetacular”. Mas não. É apenas um grito no escuro, sufocado por distâncias... uma tentativa, talvez falha, de não dormir, de não “sair de si”. Apenas reforçando o paradoxo do momento, já que isso é o mais quero.

Gostaria de estar triste. Não estou. Talvez se estivesse pudesse voltar a saber o que são sentimentos. Também gostaria de estar com raiva, não posso. Descobri cedo que as pessoas são falhas, mas, principalmente, que sou falho em pensar isso e que a raiva é, de alguma forma, apenas um jeito de amortecer dores, de transportar culpas, quando, na verdade, numa existência vazia, não há esse tipo de coisa.

Enfim (acho que não é momento de usar enfim). Escrevo na expectativa de que até o último parágrafo, que não sei qual será, possa conseguir chegar a uma catarse, possa liberar “todo meu saber” (ou o que acho que sei). Escrevo na expectativa de que ao terminar esse texto, ele não seja só mais um diário vago que ninguém lerá, e que, provavelmente, no futuro eu olharei com desdenho (e até vergonha).

Não sei se escrevo para ser lido. Interpretado. Rebatido. Questionado. Talvez seja o jeito mais fácil que consegui de me ouvir. De me pedir desculpas, ou, sei lá, de me pedir, “pare, por favor, pare”. No entanto, ao mesmo tempo, não consigo me entender. Ruídos surgem, mesmo numa noite silenciosa. Os ruídos são os risos de outras conversas que não voltam, o choro por pessoas que não voltarão ou mesmo a dor por sentimentos que... ... enfim (acho que agora usei o enfim de forma correta).

Talvez isso esteja lhe parecendo depressivo (com quem estou falando?). Mas não é. Também não é confortável ou libertador. É apenas uma tentativa de me fazer ouvir mesmo (Mas, sério. Com quem estou falando?). Porém, não surgem mais ideias. Não surgem mais palavras. Não surge o sono. Não surge o último parágrafo. Mas eu queria continuar aqui. Queria descobrir com quem estou falando. E, admito, no fundo no fundo... saber que alguém está me ouvindo.

Talvez devesse ligar para minha mãe e dizer que a amo. É, eu nunca disse. Mas seria estranho, só iria trazer mais preocupação para ela. É interessante isso né (ainda não sei com quem estou falando) talvez a melhor coisa que poderia dizer, lhe causaria uma grande preocupação. É o tal do paradoxo (gostaria de citar algum autor famoso agora, só agora). E meu pai? bem... prefiro não comentar aqui... acho que iria acabar com o resto de coerência que ainda há no texto.

Aprendi na faculdade que você não precisa terminar o texto com “a frase”, que o mais importante é o conteúdo, bla, bla, bla... essas coisas... não sei... nunca acreditei muito. Sempre fico buscando “a frase” em tudo na vida, talvez seja isso que me motiva. Porém, quando reli esse texto, percebi que o "final perfeito" ficou dois parágrafos atrás. Poderia ter voltado, deletado o resto e terminado ali. Mas, não. Representa bem como às vezes a gente não percebe e "não escuta" os melhores momentos e acaba deixando-os passar, ficando apenas com um final clichê.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Por que escrevo? (parte 2 - Viver com medo ou com o medo)


Várias perguntas parecem simples, mas, normalmente nos trazem uma resposta complexa ou evasiva. Tipo: “o que te faz feliz”, “diga algo bom e algo ruim em você”, “de que você tem medo”, “por que existe algo ao invés do nada”. Tá, essa última nem tanto.

A complexidade das respostas normalmente vem quando se entende que as questões não possuem o tanto de simplicidade que imaginávamos. Chega um momento que elas acabam nos levando a uma espécie de círculo onde surgem mais dúvidas. Exemplo, se te pergunto “o que te faz feliz”, você ao invés de responder talvez se questione o que é felicidade e isso levará a outros questionamentos e por aí vai. 

Mas meu foco não é a felicidade, sei lá, não acho que cheguei a maioridade para falar sobre isso. Talvez nunca chegue. O ponto principal, como fica claro no título, é o medo. Sempre evito responder sobre ele, e se questionado, sigo exatamente os dois modelos (que citei antes), ou respondo de forma evasiva, digo que tenho medo de “dentista”, ou complexa, falando que tenho medo da eternidade. Em ambos os casos falo a verdade, no entanto, são apenas a ponta de um iceberg que se esconde dentro de “águas frias de um pacífico”.

Meus medos sempre andaram muito próximos dos meus demônios. Uma pausa rápida: eu sei que dentro de uma cultura cristã/ocidental/maniqueísta o termo “demônio” é algo pesado, evoca “tudo que há de pior”, algo muito mau. Não é essa intenção. Os “meus demônios” podem ser classificados como algo difícil de interpretar e, às vezes, controlar, porém, não necessariamente (ou sempre) me atormentam. Seguindo... meus medos vivem uma simbiose com meus demônios, o que me leva a um distanciamento de ambos, porém, e, sendo assim, evito combate-los. É como diria uma frase de, se não me engano, Nietzsche: "ao matar seus demônios, cuidado para não destruir o que há de melhor em você".

E esse é o ponto. Talvez meu maior medo (eu sei, eu sei, deixa tudo meio incoerente) seja exatamente expô-los. Eu sei conviver com eles, sei quando me atingem, quando eu posso evitá-los ou mesmo quando posso usá-los ao meu favor. Talvez tenha o receio de, ao expor meus medos esteja expondo a mim mesmo. Talvez o medo guie minha vida e, paralelamente, eu tenha medo (?!) de que eles sejam o alicerce dela. Aí, emergindo em mim, faria a “pergunta elementar”, por que há algo ao invés do nada? E a resposta talvez seja: porque há o medo. 

Porém, não sei se vocês (eu ainda nem descobri com quem falo, e agora já estou ‘falando’ com mais de uma pessoa. rsrs) notaram que toda a base do último parágrafo, que é o mais importante desse texto, é composto por “talvez’, não existem certezas. Claro, óbvio e evidente que, sei lá, desde os 16 anos... aboli as certezas da minha vida, provavelmente (eu sei, evitei...) essa seja a marca mais forte da minha evolução (?). No entanto, basear sua vida no “talvez”, talvez... seja apenas estar expressando o medo (olha ele aí de novo) das certezas... E assim viver em círculos existenciais.

Entendem o complexo das perguntas? Não é apenas não saber responde-las ou criar outras dúvidas. É o medo (desculpa, foi inevitável) do círculo que ela pode lhe criar. Por que eu iria me preocupar com o nada se eu ainda não responder o que existe (e o que é isso). Por que iria me preocupar em responder sobre o que não tenho certeza se tento ter certeza que ela (a certeza) não existe? E principalmente, por que iria me preocupar em detalhar meu medo se não sei o que pode estar por trás dele e do que ele me protege. 

Isso tudo pode levar aquela clássica discussão sobre as “maravilhas em ser ignorante”, de tomar a “pílula azul” (ver Matrix) e continuar em um maravilhoso mundo onde reina o "não saber”. Desculpem, não foi essa intenção, queria apenas conseguir escrever, mesmo que numa palavra, mesmo que sem a intenção que alguém entenda, sobre do que tenho medo. Talvez isso me faça dormir. Talvez.

domingo, 28 de junho de 2015

Por que escrevo? (parte 3 - A ansiedade)


Acho que todo mundo já passou pelo desejo de adiantar o relógio da vida apenas “para saber o que vai acontecer”. Sim, bem ao estilo do filme Click, muito bom inclusive (apesar de que o tema poderia ser melhor aproveitado). Mas, enfim... voltando ao assunto, tudo isso é a ansiedade/curiosidade “trabalhando em nós”, esse (s) sentimento (s) tão humano. Sim, porque particularmente não acho que a “curiosidade matou o gato” não creio que ele, e os animais em geral, sejam curiosos ou tenham ansiedade, eles apenas buscam encontrar “algo melhor”, o que leva a situações diferentes.


Nós não. Normalmente apenas queremos saber o que vai acontecer, dando certo ou não. Mentimos dizendo “é só para ver se tem como dar um jeito”, quando, na verdade, sabemos que mesmo se soubéssemos de forma antecipada, cometeríamos os mesmos erros. E é aí que a ansiedade “nos destrói”, ou nos torna mais humanos, sei lá...

Admito que normalmente sempre negligenciei a ansiedade, lembrava (ou tentava esquecer) os medos, angústias, solidão, alegrias, dúvidas, enfim. Mas a ansiedade, não sei bem o porquê, ficava em segundo plano. Até ser “lembrado” (talvez da pior forma) dessa “figura”. E que chato isso... pois, pior do que a ansiedade, é alimentá-la. É torná-la algo “vivo”, um parasita que vai corroendo seus dias pouco a pouco em troca de um “futuro” incerto, de respostas para perguntas que você nunca quis fazer e de momentos que apenas alimentam mais ansiedade lhe deixando preso em um “eterno” círculo (tenho que fazer um texto só falando sobre esse círculo. Nietzsche, aí vou eu!).

A ansiedade talvez seja a mais cruel capanga do tempo. Ou pior que isso, talvez seja o próprio “mestre” do tempo que prefere viver em um anonimato e deixar seu pupilo mais famoso “brilhar”. Pois o tempo nos entrega o que promete, de uma forma ou de outra, cedo ou tarde. Já ansiedade, não. Ela brinca com o tempo, brinca com nossa mente, emoções, etc. Ela praticamente segue o preceito religioso (dogmático) de “me segue que eu te ofereço o paraíso”. E nós, tolos, nos deixamos levar.

Desculpem (?) eu falo “nós” na esperança de que essa “figura” não seja apenas um fantasma pessoal, que ela realmente seja todo esse monstro (bem) escondido debaixo da cama. Daqueles monstros tão terríveis que não adianta se esconder debaixo do cobertor para fugir.

Voltando... eu gostava quando minha única ansiedade era saber como seria o episódio de Dragon Ball Z no outro dia, ou, nos finais de semana, a ansiedade de ir viajar (para praia, piscina, etc) ou ansiedade da prova. E é curioso pensar assim. Pensar que, quando eu vejo a ansiedade como algo “positivo” acabo alimentando outro monstrinho (ou um grande monstro), a nostalgia. E pensando bem, não tem muito para onde correr, né? Na verdade, se a gente imaginar que algumas religiões se baseiam muito em um tridente (para bem ou para o mal), talvez a “nossa” tenho o seu poderoso trio que “nos guia”. São eles: a nostalgia, o tempo e a ansiedade. O Passado, o presente e o futuro. 

sábado, 27 de junho de 2015

Por que escrevo? (parte 4 - Nostalgia)


Já falei sobre a ansiedade, ou seja, o futuro. Agora, nada mais justo que falar do passado, a nostalgia. Justo não, difícil... Pensei em alguns autores para começar de forma mais “filosófica”. Porém, creio que a nostalgia vá além da vã filosofia, de teorias, teses e pensamentos. Ela talvez expresse de forma mais “material” um sentimento.

Amor, saudade, tristeza e até mesmo a ansiedade, são sentimentos que sabemos (alguns) quando estamos, porém, bem difíceis de explicar, claro, fugindo a clichê de “amor é quando você etc... etc..”... No entanto a nostalgia, não. Ela é palpável, ela existiu. Você só sente(ou deveria sentir). nostalgia de algo que viveu. Ou seja, não é algo apenas idealizado, é (ou foi) real. E como isso pode ser ruim. Anteriormente falei que “A ansiedade talvez seja a mais cruel capanga do tempo”. Verdade. Porém, a mais sádica, a que nos corrói por dentro de forma mais lenta e, muitas vezes, dolorosa, é a nostalgia. E não adianta, ela sempre virá com a face de algo bom. De lembranças de bons momentos, etc. Até porque, a “irmã ruim” da nostalgia é o pesadelo que nos traz as lembranças desagradáveis.

Mas, então como convivemos com o bom que não volta mais? Ela não nos está prometendo algo, como a ansiedade, ela está nos dizendo “Você gostou daquilo, lembra? Foi bom né... então, talvez nunca mais volte. Como você vai conviver com isso?”. E como convivemos? As vezes fingimos que o que passou foi satisfatório, mentimos para nós mesmos, outras vezes, dizemos que nem foi tão importante, e continuamos mentindo. E claro, existem aqueles momentos em que entendemos a armadilha em que a nostalgia nos colocou, e aí, caímos nos braços da ansiedade, criando fantasias ou planos de repetir o que passou e aí pisamos no tempo, ou pior ainda, na realidade, de forma dura.

A nostalgia é tão sacana e sádica que ela nos faz sair do real para o irreal, o “impossível”. Se na ansiedade, mesmo que muitas vezes difícil, nós idealizamos algo que, talvez, possamos conseguir (mesmo que de forma torpe). Na nostalgia, não. O fruto dos nossos desejos não serão mais repetidos. O máximo que podemos fazer é querer voltar no tempo. Ou seja, o impossível (até onde se sabe). E ela é um sentimento tão “palpável” que nos leva a outros estágios. Talvez, do tridente (ansiedade, nostalgia e tempo), só ela nos faça rir, lembrando dos momentos, ao mesmo tempo em que choramos, lembrando que eles não voltam, e sente raiva, ao imaginar que deveria ter aproveitado. Tudo lá, ao mesmo tempo, como se fossem aqueles socos abaixo de cintura que parecem “leve” mas, doem bastante.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Por que escrevo? (parte 5 - O tempo)


Tecnicamente este é o final. Gostaria de dizer que já descobri “quem está aí”, que já administrei meus medos e, principalmente, controlei, em um yin-yang harmônico, a nostalgia com a ansiedade. Mas, não. A única coisa que consegui foi destravar alguns atalhos do tempo. Talvez (lembram?) antecipar algumas situações e atrasar outras, apenas para relativizar a agonia do dia-dia.

É difícil concluir algo que não se conclui. Colocar um ponto final em algo que você nem sabe como começou, seguir o tempo sem esbarrar com a nostalgia, ansiedade e, consequentemente, o medo.

Quando falo de “tempo”, falo de momento, do hoje, do agora. Diferente do ontem e do amanhã, já citados anteriormente, ele não é mau, ele não nos engana e muitos menos cria perspectiva. O tempo é o nosso amigo fiel, estará conosco para sempre, onipresente, na maioria das vezes esquecido. É interessante pensar que algo tão importante, algo que, em tese, rege nossa vida, é tratado de forma coadjuvante, insignificante.

O tempo está lá e a gente sabe disso. Então, por sabermos que ele não nos abandonará, o colocamos em segundo plano, talvez, encantados pelo canto da sereia que a ansiedade nos traz, ou iludidos, com a nostalgia que nos atormenta.  

Porém, por mais fiel que possa ser, o tempo é efémero e aos poucos, sem que, às vezes, notarmos, ele vai se distanciando, vai cansando de ser mal tratado, até que chega um momento em que olhamos para os lados e apenas conseguimos enxerga-lo ao longe. O tempo não é mau, ele, apenas, não é eterno. Na verdade, ele é bom demais para ser isso.