sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Essa tal liberdade...


O conceito da falta de liberdade, no que se refere ao domínio/controle de uma pessoa sobre outra, é algo sempre, e sem muitas exceções, criticável, não existe “mas”. Porém, sem mergulhar em
questões mais filosóficas, principalmente referentes à Diógenes, Platão ou mesmo existencialistas, etc (talvez algo mais Socrático, mas isso não vem ao caso), quando se fala em “liberdade” sendo relativo ao controle da pessoa sobre ela mesma, alguns pontos podem ser debatidos.
 

Óbvio, é sempre bom deixar claro que cada um, desde que não ameace ou interfira, de forma não aceita, na vida do outro, faz o que quiser da sua vida. Longe de mim “cagar regras” de como alguém deve ou não agir. Porém, a partir do momento em que vivemos em sociedade; atitudes, ações, opiniões e gostos estarão sempre passíveis de críticas. 


Enfim, dito isso, o ponto central do texto parte da forma, ao meu ver equivocada, que a “liberdade” vem sendo (supostamente) vivida por alguns, em suma, as pessoas passaram a entender “liberdade” como “a obrigação de fazer tudo o que quiser” e não como ela deve ser vista, ou seja, com a opção de dizer não. Resumindo em uma frase: “As pessoas fazem algo porque podem fazer e não necessariamente porque querem”, e não, não há liberdade quando você se obriga a algo. Paradoxalmente, inclusive, ser livre.
                                                                       
No mundo virtual atualmente é bem comum textos e mais textos sobre “curta a vida e viaje pelo mundo”, “não seja preso a (qualquer coisa que“prenda”) e curta você”, etc. Ok. É evidente que viajar é legal, eu mesmo gosto bastante. No entanto, o faço porque: posso, e, principalmente, porque quero. E essa lógica de "liberdade" muitas vezes ignora isso, tanto a responsabilidade das pessoas, já que nem todo mundo é “filho de papai” e pode “dar uma volta por aí” indo para os EUA (ver imagem abaixo). Elas, em sua maioria, precisam trabalhar para ter o mínimo de conforto (sobre isso indico esse texto). E além disso, ninguém é obrigado a viajar apenas porque “viajar é bom”, às vezes, a pessoa pode simplesmente ficar em casa comendo brigadeiro, dormindo, vendo TV, etc... E, ao escolher isso, não estará privando sua “liberdade”, pelo contrário, o fato de escolher realça sua capacidade de ser livre.


     
       veja o texto completo 
aqui.


Fazer algo que não gosta, por exemplo, um emprego, não é tolher sua liberdade, é, na maioria das vezes, construir possibilidades de “liberdade” (escolha) em resumo, é ter dinheiro para poder escolher entre viajar e ficar em casa vendo série, entre sair com amigos ou sair só, ou mesmo entre comer feijão ou lasanha. Volto a dizer, é irreal o pensamento de “saia por aí se conhecendo e conhecendo o mundo, seja livre”, isso é resumido a uma parcela muito pequena da população, principalmente no Brasil.

Outro ponto bem comum na questão da liberdade é relativa às relações. A “liberdade sexual”, apesar de alguns pontos negativos, que surgem de diversos motivos, em geral foi positiva, principalmente para mulheres, pois rompeu algumas barreiras hipócritas e, porque não, machistas. Evidentemente, é importante cada vez mais as pessoas serem plenas em relação a isso. Não existe o “modo certo” de se relacionar, monogamia, bigamia, relacionamentos abertos, etc. Enfim, desde que aceito e conversado entre as partes, é tudo válido. Porém, assim como cada vez mais diminuímos a barreira do “o certo é uma monogamia entre homem e mulher”, alguns, contrariamente ao que deveria ser proposto, entendem isso como “a monogamia não é o certo, não é livre, prende". E veja bem como, obviamente, isso é reduzir a liberdade. Ser livre e ficar com quem quiser quando quiser (desde que com consentimento), não significa que ao não fazer isso e optar por ficar apenas com um ou uma, você não exerça sua liberdade, pelo contrário, é exatamente o direito de dizer “não” e “sim” para algo que lhe faz uma pessoa livre, até porque, vejam só, “não existe a forma certa de se relacionar”, qualquer uma pode ser boa, desde que as partes estejam bem.

O mesmo vale para relações em família. Principalmente no início da adolescência (e é compreensível), preterimos a presença da família por ir à balada ou similares, algo totalmente normal, para muitos, normalmente os mais cerceados pelos pais, é um dos primeiros gostos de “liberdade”. Todavia, muitas vezes na ânsia de viver toda essa “liberdade”, preferimos sair porque “é muito 'careta' ficar uma sexta à noite em casa” mesmo não necessariamente querendo, nos obrigamos a fazer algo e, por algumas razões sociais, algumas vezes perdemos oportunidades de, em casa, conhecermos mais nossa família, ler algo interessante, ouvir algo, enfim, conhecermos a nós mesmos.

Muitos podem argumentar: "Ahh mas se não vivermos algo como vamos saber se é bom ou não e assim, escolher?". É uma lógica muitas vezes vaga, qualquer escolha nossa, em geral, já parte de conceitos criados a partir de outras experiências. Por exemplo, se eu não gosto de altura e muito menos de velocidade é muito provável que eu não precise fazer Bungee Jumping para saber que não gostarei. Assim como se eu não gosto de ambientes lotados e fechados, se isso me faz mal, não se torna necessário ir ao centro do Galo da Madrugada para saber que não me sentirei lá. 

Enfim, como falei anteriormente, longe de mim “cagar regras” de comportamento, pelo contrário, o objetivo é mostrar que em dado momento um ideário mais pós-moderno trouxe o que talvez seja uma inversão perigosa, que é a de sempre “se obrigar” a fazer algo porque pode. Ou seja, o paradoxo da liberdade. E a “Vontade de Potência” não deve ser vista a partir da “potência” (o poder fazer) e sim, da vontade, o querer fazer.

Ps. Se possível vejam boa parte dos hiperlinks, eles irão ajudar a entender o texto.