quarta-feira, 21 de abril de 2010

Padre Cícero: a diferença do mito para o homem.

Representante maior do cristianismo no Nordeste, Padre Cícero Romão Batista, foi uma figura polêmica em vida, e continua sendo assim após sua morte. Os que crêem nele, divinisam-no, vêem no padre uma pessoa boa, amiga dos pobres e que só fez o bem em vida. Já seus opositores o colocam como mais um coronel (político), algo ainda (infelizmente) comum no Nordeste, alguém que coloca seus interesses e dos seus poderosos representantes como prioridade.

Ambos erram, porque não sabem analisar qual é o Padre Cícero que cada grupo vê. Os fiéis reverenciam o mito, já os descrentes a pessoa.

Falando primeiro sobre os fiéis, em sua maioria nordestinos, criaram o mito, o santo, porque era necessário, assim como a maioria das culturas precisam de seus herois a cultura nordestina não era diferente. Se Zumbi, por ser negro, não poderia, os líderes das revoluções populares, como Frei Caneca, Cosme Bento, Francisco Sabino, etc, ou mesmo Lampião, foram transformados em bandidos por quem possuía o poder, restou ao povo do Nordeste, encontrar um símbolo bem visto pela oligarquia, e aí, o Padre Cícero se tornou a escolha mais condizente. Visto a importância do catolicismo para o Brasil (maior país católico do mundo), Ele (mito) representou, e muito bem, o clamor desse povo sofrido, que precisava de um igual, para se sentir "gente", para lhes falar diretamente. Então ele, como símbolo, foi algo totalmente positivo, que trouxe esperança para a população.

Agora vendo o lado dos que lhe criticam, também estão corretos, o Padre Cícero (pessoa) sem levar em consideração se fez milagres, foi um coronel, com, evidentemente mais desapego as suas posses do que a maioria deles. Foi político, se utilizando do seu prestígio como padre, do PRC (Partido Republicano Conservador) partido representante do que havia de pior na República café com leite, se é que existia algo de bom, foi sempre fiel (mesmo após a excomunhão) a uma igreja católica retrograda, se mostrou preconceituoso (algo comum no início do século XX) como fica provado em um depoimento de uma mulher que conviveu com o Padre no filme, Milagre em Juazeiro (de 1999) e combateu a coluna prestes. E não me venham dizer que seu bom convívio com Lampião foi algo negativo, muito pelo contrário. Mas enfim, não podemos dizer que foi uma santa pessoa (como seu conterrâneo DOM HELDER CÂMARA).

Então, assim como várias figuras históricas, que se diferenciam entre mito e realidade, o Padim Ciço (como também é conhecido) tem que ser analisado como dois, bem diferentes por sinal, mas que, não deixam (isso, no plural) de ter sua importância para a história brasileira.


"Sou devoto de Padre Ciço Romão Sou tiete do nosso Rei do Cangaço E meu regaço cuminado em pensamento Em meu rebento sedento eu quero chegar".

Trecho da música, Caboclo Sonhador, composição de Flávio José.