quarta-feira, 30 de abril de 2014

Em busca da torcida perfeita


Não há nada como assistir um jogo no estádio de futebol e se for clássico ou final, melhor ainda. Isso é inegável. O clima do jogo, a cadeia de emoções que podem variar a cada segundo de raiva para alegria, para decepção e depois alegria de novo. Enfim, inigualável. 

Muitos podem falar “ahh mas é violento”, sim, assim como a sociedade em geral. “Ahhh mas não tem estrutura”, já falei sobre isso aqui, mas mesmo com, em alguns casos, a falta de estrutura, a emoção geral de ir para uma partida (salve exceções) compensa. Já escrevi sobre torcidas e futebol algumas vezes (aqui, aqui e aqui). Porém, abordei mais precisamente o assunto “torcidas” no texto, “ Torcida no Brasil não serve para nada” de dois anos atrás. E é meio baseado nele que falarei hoje, porém  fazendo uma mea culpa. 

O tempo passa, a gente evolui (ou não), e sinceramente discordo de muito do escrevi tempos atrás. Torcida no Brasil serve sim e não há como “comparar torcidas”. Sabe-se lá porque se criou uma “áurea” sobre a torcida argentina, alemã ou inglesa. Deve ser pelo conceito, do qual compartilhava, de que “eles sim sabem torcer”, motivo: apóia o jogo todo, canta, etc. Ok. Acho lindo, um bom exemplo. Todavia, não significa que ela seja “melhor” que a brasileira (ou qualquer outra). Dizer isso é maximizar aquele pessoal que gosta de ser “caga-regra” de como torcer. Não tem aquele cara chato no estádio que fica falando: “Se for pra ficar sentado vão para casa. Tá aqui para torcer, etc. etc.”, ou seja, que acha que o torcedor deve agir igual a ele, pronto, é bem isso.

Você dizer que “há um jeito certo de torcer”, é mais ou menos dizer que “há um jeito certo de expressar sua emoção”, e pior, de certo modo ainda interfere em direitos básicos de comportamento, até porque, se eu estou pagando para ir a um jogo de futebol, no campo, não atacando ninguém (fazendo algo “fora da lei”), posso fazer o que bem entender, gritar, chorar, dormir, levar um porco (ta, aí não sei). O importante, óbvio, é o estádio estar cheio (e aí sim a gente pode discutir o papel da torcida brasileira na média de públicos).

Até porque poderíamos ver o lado "ruim" desse apoio incondicional, exemplo: Jogo entre Middlesbrough (Boro) x Manchester City em 2008, 7 (SETE!!!) a 0 para o Boro e, aos (mais ou menos) 35 do segundo tempo, o City faz um gol, o que a torcida (sim, ainda tinha torcedor do City em campo), faz? COMEMORA! (ver a partir de 1min e 40)... Sério que isso é um “grande exemplo de apoio?”. Sinceramente, na minha terra, seria outra coisa. E esse é apenas um exemplo de vários outros casos, ontem mesmo, Bayern sendo humilhado pelo Real Madrid em casa e a torcida... ...Comemora, canta!... Por quem? Por que? Sinal de “amor incondicional” ou seja, "estamos lá nos bons e nos maus momentos", pode ser. Mas, o que de fato isso pode interferir na grandeza do time ou no resultado da partida. E além disso, desde quando “amor” significa apoiar incondicionalmente? Amor também pode aparecer em atitudes como chorar, se calar ou até mesmo reclamar, xingar... Claro, chegar a pontos como agressão (algo que não ocorre só no Brasil), está completamente fora de qualquer atitude “aceitável” de um torcedor.

Enfim, seja sentado, cantando ou como os japoneses, fazendo "ohhhhh..." para qualquer passe certo, o importante é, como diria aquele velho clichê, "a festa das torcidas no estádio", porém, cada um ao seu modo, pois, parodiando o Conde do Brega: “A liberdade ta aí... ta aí...".


"A torcida paga ingresso para ver o time vencer. Quem quiser ver espetáculo que vá ao Teatro Municipal." Muricy Ramalho.