domingo, 10 de janeiro de 2010

Os sentimentos de uma guerra.

Abaixo trago dois relatos sobre guerra, tirados do livro, história e vida de Nelson Piletti e Claudino Piletti, editora ática, 1989.


O RÁPIDO DESENCANTO COM A REALIDADE DA GUERRA.

De repente, uns silvos estridentes nos precipitaram ao chão, apavorados. A rajada acaba de estalar sobre nós. Os homens, de joelhos, encolhidos, com a mochila sobre a cabeça e encurvando as costas, se apegavam uns aos outros. Por baixo da mochila dou uma espiada nos meus vizinhos: arquejantes, sacudidos por tremores nervosos e com a boca contraída numa contração terrível, batiam os dentes e, com a cabeça abaixada, têm o aspecto de condenados oferecendo a cabeça aos carrascos. O cabo, que havia perdido seu capacete, me diz: rapaz, soubesse que isso era a guerra e que vai ser assim todos os dias prefiro que me matem logo. (...)

Na sua alegre inconsciência, a maioria dos meus camaradas não havia jamais refletido sobre os horrores da guera e não viam a batalha senão pelas cores patrióticas; desde nossa saída de Paris, o boletim do Exército nos conservavana inocente ilusão da guerra ser um passeio e todos acreditavam na história dos boches se renderem aos magotes (...) A explosão daquele instant sacudiu nosso sistema nervoso, que não esperava por isso, e nos fez compreender que a luta que começava seria uma prova terrível. Escute meu tenente, parece que se defendem estes porcos!

(diário do ten. Galtier-Boissière na frente ocidental, 22 de agosto de 1914).


O VIZINHO

Eu sou o vizinho. Eu o denunciei.
Não queremos ter aqui
nenhum agitador

Quando penduramos a bandeira com a suástica
Ele não pendurou nenhuma bandeira.
Quando lhe falamos sobre isso
Ele perguntou se nos é cômodo
Onde vivemos com quatro crianças
Ainda há lugar para um mastro de bandeira.
Quando dissemos que acreditamos novamente no futuro
Ele riu.

Nós não gostamos quando o espancaram
Na escada. Rasgaram-lhe o avental.
Não era necessário. Temos poucos aventais.

Mas agora ele se foi, há sossego no edifício.
Já temos preoucupações demais
É preciso ao menos haver sossego.

Notamos que algumas pessoas
Viram o rosto quando cruzam conosco. Mas
Os que o levaram dizem
Que agimos corretamente.


poema de Bertold Brecht, mostra o estimulo do governo nazista para se denunciar, qualquer ato de "agitação."


"A guerra é um massacre de homens que não se conhecem em benefício de outros que se conhecem mas não se massacram." Paul Valery.

2 comentários:

É o verbo...