segunda-feira, 29 de julho de 2013

Sobre as santas quebradas, autismo ideológico e a síndrome de militante arrogante


Tenho, de coração e sem hipocrisia nenhuma, a maior simpatia e principalmente respeito pela Marcha das Vadias e o Movimento Feminista no geral (salve algumas exceções = Femen). Até porque, mesmo conhecendo um pouco, seria muita cara de pau minha criticar o feminismo (como movimento), mas, posso falar sobre as atitudes. 

Para começar, boa parte do que poderia falar se resume a esses dois textos> http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2013/07/guest-post-entre-cruz-e-rosa-luxemburgo.html e http://thaliedrumond.com/2013/07/para-colocar-os-pingos-nos-is/. Mas, vou ampliar um pouco o assunto. 

Nem preciso dizer que a atitude de quebrar imagens e crucifixos na Marcha das Vadias do Rio de Janeiro (na última semana), foi de uma minoria no grupo, até porque as próprias organizadoras já falaram sobre isso. Ok. Mas é claro que preciso frisar o “nojinho” que tive de alguns “autistas ideológicos” neste fim de semana, que resumiram o assunto a Igreja x Feministas ou “mídia má” x “feministas boas”, e coisas do tipo. Gosto de acreditar que seja inocência, os famosos “idiotas úteis” (odeio esse termo!)... 

Porém, vamos lá... Alguns argumentos foram: “ahhh é a revolta contra a Igreja opressora foi algo na emoção”. Ok, entendo a revolta, mas, creio que o protesto em si já é o “grito” (em conjunto) que expressa essa revolta. E não venham me falar em “emoção” que ninguém sai com um santo daquele de casa sem saber o que vai fazer. E isso sem contar, claro, que, quando se quebra os santos você resume o protesto apenas à Igreja Católica e como sabemos, o único problema é ela, certo? Os pentecostais e Cia quase não são preconceituosos. “Ahhh mas, quando fazemos isso, somos a minoria revoltada, não é uma ação, é uma resposta”. Uma resposta igual aos pastores da Universal quando fazem isso? E mesmo assim, desde quando esse grupo representa (ideologicamente) a “minoria” (não falo em tamanho, falo em opressão). Não suas imbecis. Vocês não são as (únicas) oprimidas. Não tentem agir como se só vocês soubessem o que é “ser mulher” (coisa que eu não sei, óbvio). Mas, recorro a esse outro ótimo texto para resumir essa linha de pensamento> http://outraspalavras.net/posts/a-sindrome-da-militancia-arrogante/

Voltando... Em outro texto que me deu tremenda vergonha alheia vi> “Mas o que o feminismo ganha com isso? A opinião pública ficará contra nós”. 

Deixa eu te contar um segredo: a opinião pública nunca esteve a favor do feminismo. Nem se todas as feministas usassem terninhos cor de rosa, fizessem escova e se depilassem, a opinião pública e a mídia estariam nos apoiando. 

Pera... pera... pera... mais síndrome de militância arrogante. Ok. Concordo, a mídia não ficaria “a favor”, mas, também não precisava das motivo para ela ser contra. Agora como assim a “opinião pública é contra”?. Primeiro: quem é essa “opinião pública”? E segundo, oxe, só vale feminista? A “opinião pública” é machista? Ou a mídia faz da “opinião pública” machista?. A mulher (não feminista) lá da favela, católica, que abortou aos 15, mas, nunca ouviu falar de feminismo não é contra o aborto?, por exemplo. O feminismo (de fato) chega a ela? Pera... o assunto é outro, perdão. Enfim, como assim “vamos fazer isso mesmo porque a ~opinião pública~ será sempre contra nós”, não gente, autismo ideológico, não. O MST, por exemplo, “sempre” será do lado oposto a mídia, mas, não é por isso que eles saem por ai ocupando a plantação de pequenos agricultores, não. A ~opinião pública~ é importante, sim. Não façam o jogo da direita de que “o brasileiro é conservador”, existem fatores culturais para isso, e esse axioma não é verdadeiro. 

Eu sei que a maioria que tomou essa atitude não entende de semiótica, religião e da importância da mesma na vida dos outros. Talvez elas não saibam que as imagens quebradas são as quais as mulheres, agredidas pelos seus maridos, se ajoelham para chorar e encontrar conforto (não vejo isso como positivo, ok), as imagens quebradas, são as mesmas, que, mesmo numa catarse as vezes “sem sentido”, une negros, brancos, ricos, pobres, etc. É a mesma que várias e várias mulheres se ajoelham pedindo para que seca acabe, para que seu filhx consiga um emprego, para que a polícia não invada seu barraco. As imagens, alvo da revolta, são as mesmas que, na falta de oportunidades, trazem esperança. E não é a religião, as imagens não representam (apenas) isso, essas pessoas não estão nem ai se o Papa é a favor ou contra o aborto, se a Igreja oprime ou não, ou mesmo o que está escrito na nova encíclica do Papal. 

Também fiquei com a impressão que quebraram a imagem de Maria porque ela representa a “santa” (nem santa, nem puta). Ok. Mas, sei lá. Se a gente for analisar, elas quebraram a imagem de uma figura histórica que, no meio de uma sociedade machista e sob o risco de ser morta, aceitou “ter um filho fora do casamento”, sinal, no mínimo, de coragem (estou falando como figura histórica, ok). Elas quebram a imagem de uma das poucas mulheres que são retratadas com maior destaque do que os homens na história, que causa, talvez por ser mulher, desconforto em parte da sociedade machista. “É um absurdo essa mulher ser mais adorada do que Jesus”, (ver> http://osentidoeoverbo.blogspot.com.br/2011/08/maria-maior-invasao-de-privacidade-da.html) dizem os evangélicos. Sei lá... As vezes acho que a figura da imagem quebrada é mais feminista do que muitas que estavam lá. 

Ahhh sim. Já que a intenção é destruir símbolos da opressão. Sei lá. Seria legal não ir, e de preferência destruir, shoppings, empresas que realizam comerciais machistas, a globo, a Record, o SBT, o templo da Universal, e se for para ser alguma imagem, que seja a de São Pedro...É claro... 


“Quem quer destruir pela violência física os simbolos do capitalismo, deveria então rasgar dinheiro - o simbolo maior do capitalismo” Emir Sader.

4 comentários:

  1. Sobre o protesto ter como foco só o catolicismo: essa data da Marcha das Vadias foi escolhida exatamente pra ocorrer enquanto o papa estivesse por lá. Protestos têm que ter um foco, ou vira aquele Carnaval de Recife que a gente viu.

    Minha opinião é a de que houve um enorme exagero.
    O fato é: duas pessoas, compraram imagens de santos e depois as quebraram. Ponto.
    Ninguém quebrou nada na igreja, impediu pessoas de frequentar seus templos ou agrediu líderes religiosos.

    Foi tudo muito simbólico. Forte pra quem crê? Sim, mas performances artísticas fazem isso. Na própria marcha, de não lembro qual, já houve santa customizada de puta, o que pro pessoal religioso dá quase na mesma.

    Em outra ocasião, houve tentativa de invasão de um templo evangélico. A marcha informou que era contra esse tipo de atitude, pois aí sim fere diretamente com o direito à liberdade dos outros.

    O símbolo pode ter vários significados. O mesmo que serviu de esperança, como você destacou, também representa opressão.

    Eu achei ofensivo e manipulador pra caramba os terços de fetinhos distribuídos entre os fiéis, mas nem por isso vou dizer que foi errado. É o direito de expressão deles.

    O feminismo é múltiplo, agrega um monte de gente diferente pra caramba que luta por objetivos em comum. Eu não quebraria santos, mas entendo o significado que isso carrega pra quem o fez.

    Protesto que é todo certinho, que não incomoda ninguém, não é protesto.

    Ahh e lojas já foram quebradas pelo Femen e, oh, foi bem vergonhoso.

    Obs: esse povo horrorizado com isso mais parece aquele pessoal que manda e-mail pro Não Salvo e pro Jesus Maneiro falando de blasfêmia.

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  2. Oba... Comentário... obg...

    Vamos lá...

    Sobre o "foco no catolicismo", bem, eu acho que deveria ser ampliado. Mas, concordo. Ok. E sou totalmente favorável a marcha.

    Sobre o exagero. Concordo em partes (voltarei a falar sobre isso).

    Não, não dá "quase na mesma" e esse é o problema (em partes) estão qualificando os "religiosos".

    Bem, sobre a invasão eu sou até a favor. Mas, entendo perfeitamente.

    Os terços representam a mentalidade daquele povo (que fez), e eu não espero nada daquele povo.

    Eu sei, eu entendo (sinceramente), mas discordo frontalmente delas. Infelizmente classifico-as como "idiotas úteis" ou "militante arrogante" (falarei sobre)

    Mas, Polli... só a presença delas lá já causa incomodo pô. E o fato de o núcleo que organizou não ser favorável mostra que o "objetivo" não era aquele. Poderia ser debatido o verdadeiro problema (do qual o protesto levanta a bandeira) do que "perder" tempo nisso...

    Bem, esse povo horrorizado é o mesmo que ficaria se elas tivessem lá semi-nuas (o que eu concordo)...

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  3. Motivos da minha irritação sobre isso...

    Muitos comentários (favoráveis) que vi dizendo que era "só uma estátua de gesso", Não. Desculpa, não era. Vale lembrar que quando o Pastor da Universal lá chutou a santa a mesma "polêmica" foi criada e até hoje existe (aquela época não existia net como hoje). Falo por conhecimento de fato, a simbologia/semiotica(?) (e vc entende bem sobre isso) é muito alta. Muito mesmo.

    Um exemplo pessoal que acho que serve para vários lares (católicos): Meu pai viajou para SP esse ano e foi para Aparecida, antes de viajar minha mãe pediu apenas uma coisa a ele, uma estátua lá de aparecida (da santa). Ai ele trouxe e ela disse que foi "o melhor presente que ganhou na vida" (quase chorou). Véio, ela nem vai para Missa direito e nem sabe o nome do antigo papa. (enfim, desse exemplo acho q você tira a importância dessa imagens)...

    Mas, voltando... ao falarem que ela "só uma imagem" também vi gente falando que era um protesto "contra a igreja opressora". Ok. Concordo com o protesto e como disse acho que só o fato delas estarem lá já mostra esse confronto. Mas, vi gente dizendo que era o momento de "chocar", romper e tals... Mas, chocar quem? É importante se entender que entre a Igreja (instituição) a religião (católica) existe a religiosidade (pessoas). E a maioria (ou boa parte), como falo, é a favor do casamento gay, é a favor de preservativo, etc... sendo totalmente contra os "dogmas" da Igreja.

    Então, quando você ataca esse simbologia católica (a imagem) você não tá atingindo a religião, você está atingindo as pessoas, que nada tem a ver com aquela podridão (da Igreja). Você tá rompendo com as pessoas. Um exemplo, a prostituta que tem tua sua imagem de santo e tem fé naquilo (uma Maria Madalena da vida..kkkk). Será que o feminismo também não é para elas?

    E ai entra em outro ponto que também me deixou irritado. Não posso julgar quem fez isso (não conheço), mas, comentários (favoráveis) que vi, que tratavam quem fez como "representantes do feminismo contra a Igreja opressora", e ai entra o lance da "militante arrogante" é como se "só" essas pessoas que entendem a realidade opressora (da igreja) fossem feministas... como se só elas soubessem o que é sofrer (por ser mulher), e até me parece que como se só elas tivessem vagina. Passa um ar de "superioridade" (muito comum do Femen). E as mulheres (que cito lá) que vêem nessas imagens um simbolo de conforto, como fica? elas são menos mulheres? elas sabem menos o que é sofrer? o real problema é a imagem ou o sistema em si...

    E ainda para terminar (ufa). Maria não, na boa. Eu entendi que até a escolha foi proposital sob a ideia do "nem santa nem puta", vi Juliana falando que Maria é a maior representação do que querem das mulheres (virgem e santa). E discordo. Primeiro que ninguém (machistas) quer as mulheres virgens, talvez "castrada", mas, virgem não. E além do mais... o que falei de Maria lá... (não vou repetir) e pô, a maioria das mulheres no Brasil se chamam Maria, e de novo remeto a origem dessas Marias, quem são essas Marias, que "assiste" elas, etc...etc... É como falei antes acho que erraram por "inocência" de não entender a importância da simbologia que isso tem.

    Tanto é que... (vou terminar, juro)...

    Acho que as mulheres do Recife (assim como geral), tem totais motivos para protestar contra a Igreja. O maior evento religioso da cidade é a procissão da padroeira lá... Vamos imaginar que fazem algo igual aqui... Você acha que funcionaria e que seria correto, os verdadeiros inimigos do feminismo são (em sua maioria) os fieis que lá estão (e que se sentiriam ofendidos) ou eles também (principalmente as mulheres) vítimas?...

    ps. É claro, eu sei que o público do JMJ é diferente da procissão aqui...

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  4. Eu não disse que são apenas estátuas de gesso, sei que isso choca muito a quem crê, o significado que isso carrega.
    Mas, o significado é múltiplo: o santo que é fé e esperança também é opressão (e não, não só pra mulheres).

    Imagens são quebrados em outras ocasiões artisticas. Há "blasfêmia" em muito videoclipe por aí.

    A ideia do protesto não era de ser bonitinho mesmo. Não acho que tenha sido certo e, como eu disse lá em cima, não faria o mesmo.

    Concordo com o que você diz que parece exclui essas mulheres cristãs do feminismo, isso não deve ter sido sequer cogitado. Mas continuo achando que rolou um enorme exagero e compreendo as causas de quem fez isso.

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É o verbo...