quarta-feira, 24 de julho de 2013

Quase deuses


Não tenho capacidade institucional para comentar (com propriedade) sobre o “Ato Médico” e o programa “Mais médicos”, apesar de ter minha opinião formada. Porém, eu posso “não poder” falar tecnicamente sobre o “meio” dos médicos, mas, posso comentar sobre suas atitudes. E é sobre isso que abordarei.

Já trabalhei com médicos e aquele velho ditado: “Médicos não se acham deuses, tem certeza!”, cai como uma luva em boa parte deles e esses “protestos protecionistas” recentes mostra bem isso. Mas será que a culpa é só deles? Por que outras classes que possuem, de certo modo, a mesma arrogância dos médicos, como jornalistas (da qual faço parte), engenheiros e divulgadores da Telexfree não conseguem interferir diretamente no meio ou possuem o mesmo respaldo que os “nobres” da medicina.

A resposta talvez seja porque socialmente os “doutores” (e só por usarem esse termo já diz muito), são tratados como uma classe “acima da lei”, inquestionáveis. O “doutor” disse e a gente concorda, o máximo que pode fazer é ouvir a opinião de outro “doutor”. Tanto é que, em quase todas as outras profissões há o reconhecimento geral do mérito de quem realiza o trabalho, mesmo que com uma certa hierarquia, na medicina, não. Se alguém salvou sua vida: “foi o doutor”, nunca (ou quase) foi o pré-atendimento dos bombeiros, o pronto atendimento da enfermeira ou mesmo o pós-atendimento de outras áreas (fisioterapia), por exemplo.

Outro ponto importante é a infalibilidade da classe. Quando um jornalista erra, a classe ou no mínimo o jornal (ou emissora) é criticada por inteiro pelo erro de um, quando um policial erra a policia e seus métodos (do quais não concordo) são criticados como um todo. Porém, quando o medico erra, ele tem nome, endereço e não representa o todo, não é um erro “de classe”, é o erro de uma pessoa.

Para essa, ao meu ver, supervalorização, há sempre a indagação “ah mas os doutores estudaram muito e merecem esse know how”. Merecem? Como vivemos numa parcial sociedade capitalista, eles merecem os seus (bons) salários pelo que estudaram/responsabilidade que tem, agora até onde vai o know how (de “deuses”), talvez haja um exagero, pois boa parte dos médicos não salvam vidas sem um equipamento (tecnológico) necessário e para chegar até aí, uma série de classes (profissões) tiveram importância. E mesmo sem as máquinas, o auxílio humano de outras funções é importante, até porque, como já foi dito, sem um bom profissional de enfermagem, um médico terá seu trabalho totalmente dificultado. Pode até salvar vidas, em dados momentos, assim como alguém que tenha conhecimento em primeiros socorros também pode, bombeiros ou até uma pessoa comum, por exemplo.

Além disso, os medicamentos e vacinas que, em alguns casos, também salvam vidas, nem sempre foram criações de médicos. Isso sem falar já utilizada na “medicina tradicional”, porém, ainda pouco valorizada, medicina natural, feita por “não-doutores”. A mídia também tem uma função preponderante para a “construção social do doutor”. É sempre muito abordado os esquemas fraudulentos de corretores, bancários, políticos (claro), da igreja, da polícia, da própria mídia, etc.. etc... Mas, os conluios entre médicos e laboratórios ou empresas de plano de saúde. Até no cinema os “doutores” tem uma imagem de “herói” para “Rambo” nenhum botar defeito. É muito comum filmes onde diversas outras profissões, jornalista, corretor, cozinheiro, vendedor, etc. No entanto, em relação a medicina, mesmo em filmes onde eles são os vilões (como em “um ato de coragem”), de alguma forma terminam sendo exaltados como “salvadores”.

É evidente que é medicina é importantíssima, não discuto isso. Mas, sim, o aspecto de “superiores” que a sociedade cria e eles (como classe) muito bem assimilam, fazendo com que, muitas vezes, deixem de lado a maior obrigação de um médico: servir ao povo. E ah! Antes que você fale: “é, quando tiver doente você vai procurar quem? O chapolin colorado”. Não, claro que não. Talvez eu vá em um médico, assim como, creio eu, quando precisou construir sua casa um médico não contratou outro da mesma profissão, quando precisa se informa um médico não lê artigos pessoais de outros médicos ou mesmo quando for voar de avião não é um médico que pilota. Ahhh sim, e claro, para se tornar médico, passar em vestibulares (seja aqui ou na Bolívia) etc, o “doutor” não aprendeu tudo com outros “doutores”. Quer dizer, sim. Na maioria dos casos aprenderam com os verdadeiros doutores, o professor.

Um comentário:

É o verbo...