Não entrarei no mérito da ação coercitiva, da operação
Lava-Jato ou nas reações a respeito disso, creio que a internet/meios de
comunicação oferecem veículos (e textos) bem melhores para esse tipo de
informação. Meu foco é o desdobramento do caso ocorrido ontem com o
ex-presidente Lula e como ele pode afetar, ao meu ver negativamente, as
eleições de 2018.
Em primeiro lugar, diferente do que alguns tuiteiros, blogs e etc, seja por desconhecimento, caça-clique ou mesmo má-fé tentaram afirmar,
após o que houve nesta sexta-feira, o PT não acabou e não acabará. O PT é um
partido enorme que possuí, mais do que qualquer partido político no Brasil,
militância orgânica e que consegue organizar massas. E sim, isso manterá o
partido por muitos anos entre os maiores, por mais que diversos setores, inclusive
alguns dentro do próprio PT, tentem o contrário.
Vejo como coerente, assim como ocorreu com Dirceu,
Genoíno, etc. a defesa do PT (incluindo seu fiel escudeiro PC do B) ao ex-presidente
Lula, a partir do momento em que o partido avalia que há perseguição, e é um
direito seu, defender seus partidários, independente de qualquer “senso-comum”
é algo bem normal e natural, não vejo problema nisso. No entanto, e é esse o
principal objetivo do post, me preocupa, mais uma vez, a personalização do
caso.
Achei interessante, e até certo ponto previsível, o discurso
de Lula após o ocorrido, o argumento de “eles contra nós” é uma carta sempre
segura do PT, e, convenhamos, a mídia faz por onde alimentar esse tipo de
argumento. Porém, me chamou atenção negativamente quando o ex-presidente (apartir dos 25min e 20 segundos) diz: "eu descobri agora que nem tudo está
acabado como pensei que estava. É preciso recomeçar".
Esse tipo de declaração indica que Lula, no alto de toda sua importância
interna e externa, algo provado ontem, simplesmente diz que havia desistido do
governo Dilma. E pior, é necessário ele, um senhor, como o próprio fala em
discurso, com mais de 70 anos, conclamar um partido enorme a “recomeçar”. Mas, recomeçar
por onde? O que especialmente Lula pode oferecer de novo?
Ontem, como em alguns momentos dessa crise (ou “crise”) se
abriu a possibilidade do PT, dentro da sua grandeza, se renovar, propor algo
novo, novas lideranças e direcionamento que, em primeiro lugar, não fique preso
a lógica de “nós contra eles”, e, em segundo, não viva em função do “é melhor
assim do que voltar ao que era”. É evidente que o novo pelo novo não é a solução dos problemas, porém, a forma como foi tratado o caso no
meio petista, elevando Lula como o “presidente de 2018” me passa a imagem de um
partido atrofiado que propõe, para 2018, uma lógica “é melhor ficar na década
de 2000 do que voltar a de 90”, sinceramente, isso não me encanta. É, mais
uma vez, repetir todo o discurso já desgastado de 2014.
O discurso de Lula de “nós avançamos socialmente e eles não
aceitam”, mesmo que correto, é velho. Sim, houveram avanços, mas, e agora qual
é a proposta que vá além de “pelo menos não são eles?”. O PT, e
consequentemente o ex-presidente, perderam uma grande oportunidade de fazerem o
que já deveriam ter feito faz muito tempo, que é zelar e se necessário limpar a
imagem de uma das figuras mais importantes da história do Brasil. O que me
parece é que o partido ao invés de aprender com seus erros e, principalmente,
com a história, ao invés de preservar a marca Lula, prefere cometer os mesmos
erros outrora cometidos por Vargas, o da personificação do Estado, do
sebastianismo político, talvez sem a mesma consequência, todavia, sem qualquer
tipo de avanço ou proposição de melhora. É o culto à personalidade de um
partido que, através de sua militância, poderia propor algo além do nós contra
eles.
Ps. Também me incomodou bastante o ex-presidente, vítima da
ditadura militar, não contestar o exagero de parte da militância petista que
comparava uma ação coercitiva, onde, segundo o próprio presidente ele foi “bem
tratado pelos delegados” com as prisões e crimes da ditadura. É algo de um
desrespeito enorme com a história dos que foram perseguidos por esse período.
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